sábado, 30 de julho de 2011

Autoimagem Bíblica: Uma Visão Correta de Nós Mesmos

Leia Rm 12.3


Uma das coisas mais difíceis de fazermos é uma avaliação correta de nós mesmos, não é mesmo? É o que chamamos de “autoimagem”. Neste texto de Rm 12.3, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, Aquele que “sonda mentes e corações” (Rm 8.27 e Ap 2.3), diz que: “Porque,pela graça que me foi dada, digo a cada um de dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.

                  É importante vermos os versos que antecedem a esse, os v.1,2 nos quais Paulo fala sobre a constante renovação da nossa mente por meio de uma vida consagrada a Deus. E agora, no v.3, com essa renovação processada em nossa mente, devemos olhar para nós mesmos, e, guiados pelos efeitos maravilhosos da Graça de Deus em nossa mente, termos uma visão correta sobre nós.

                  Ele usa dois verbos relacionados à autoimagem que são muito importantes para entendermos o que ele está ensinando: u`perfrone,w (pensar além do que convém) e swfrone,w (pensar com moderação). O primeiro verbo aponta para uma avaliação de mim mesmo carregada de arrogância e soberba, que me faz ver em mim mais do que realmente sou. O segundo verbo aponta para uma visão correta de mim mesmo na qual, com uma mente sóbria, razoável e sensível, consigo me ver como realmente sou guardando as devidas proporções não indo além das fronteiras estabelecidas (cf. RIENECKER E ROGERS,1988, p.276).

                  Uma pessoa que se encontra deprimida, frustrada e desanimada com o que vê em si mesma busca ajuda da psicologia moderna, e houve daquele profissional que ela deve parar com esses “sentimentos negativos” e começar a nutrir “pensamentos positivos e bons” acerca de si mesma.

                  Mas, convenhamos, sem o auxílio e orientação da Palavra de Deus podemos ter uma visão correta de nós mesmos? Com certeza não. Tendo como parâmetro somente o nosso ego inflamado, facilmente cairemos no erro de valorizarmo-nos ao extremo quando na verdade nosso ego não tem a mínima condição de avaliar-nos corretamente. É por isso que precisamos ter uma autoimagem bíblica para nos vermos como realmente somos, para isso precisamos conhecer a Deus.

                  Não precisamos de autoestima, na qual com facilidade estimaremos o que deve ser detestado. Não precisamos estimular o que há de ruim em nós (é isso que a autoestima faz); precisamos de ajuda para vermos como realmente somos, e para isso somente a Palavra de Deus tem os recursos necessários. Sem Ela corremos o risco de valorizarmos o que é desprezível, ou de desvalorizarmos o que Deus tem feito em nós.

                  A vida cristã é um constante caminhar na humildade e com humildade. O homem mais cheio do Espírito Santo em toda a História foi João Batista, e veja o que ele disse de si mesmo e de Jesus: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Essa mensagem não soa bem aos ouvidos das pessoas em nossos dias justamente porque a ênfase dada hoje em “ser o primeiro”, “o melhor”, faz com que olhemos mutuamente e nos vejamos como concorrentes, e o que é pior, nos faz olhar para Deus e ver que Ele tem a obrigação de nos dar o que queremos porque damos um duro tremendo nessa vida.

                  Outro exemplo bíblico que temos que nos mostra que a vida cristã é um caminhar na e com humildade é o próprio apóstolo Paulo. Perceba os “degraus da humildade” na vida dele.

                   No começo de seu ministério, quando foi questionado sobre sua autoridade apostólica pelos coríntios, ele afirmou que era apóstolo (1Co 9.1,2). Um pouco mais à frente, em 1Co 15.8,9 ele se vê como um apóstolo “nascido fora de tempo...” e como  “o menor dos apóstolos”. Mas ele não para de descer essa “escada”. Falando para o jovem pastor Timóteo  em 1Tm 1.12-17, ele se autodescreve como “o principal dos pecadores” (v.15 e 16). Ele começou afirmando sua autoridade apostólica como os demais apóstolos, depois passou a se ver como o menor dos apóstolos e, por fim, se viu como o principal dos pecadores.

                   Observe novamente o v.15: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Aqui temos um exemplo claro de alguém que teve uma autoimagem bíblica de si mesmo. Se Paulo apenas tivesse se visto como o principal dos pecadores ele cairia num desespero terrível. Contudo, é o que vem antes que dá não só sentido ao que ele via de si mesmo como trouxe a mais linda e vívida esperança ao seu coração, a saber, “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores...”.

                   Os pecadores são o alvo do amor de Deus, e eles são salvos não por serem bons ou merecedores, mas, por serem carentes da misericórdia de Deus. E saber que Deus me amou a ponto de enviar Seu Santo Filho para morrer em meu lugar (Jo 3.16) é que me faz ver quem realmente sou.

                   Aliás, Paulo sempre apontou para a Graça e para a vontade de Deus para mostrar quem realmente ele era. Veja: Rm 12.3; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; 1Tm 1.1; 2Tm 1.1 e Tt1.1.


Aplicações Práticas

                   Diante de tudo o que foi exposto, extraímos as seguintes aplicações práticas para nossa vida:



1)      Somente através da Bíblia podemos nos conhecer de verdade

                   A Bíblia não alimenta o nosso ego inflamado. Antes, ela nos coloca no nosso devido lugar, ela nos mostra o quão pecadores nós somos, mas, também o quanto é possível Deus nos amar. Não é nos autoestimando que seremos pessoas melhores. É somente quando vemos o amor de Deus por nós, revelado em Cristo, que nos daremos conta do nosso valor.

                   Como disse Thomas Watson, o grande pastor puritano: “Enquanto o pecado não for amargo, Cristo não será doce”. Com isso ele nos mostra que enquanto não vermos a miserabilidade do nosso pecado, o completo não merecimento da Graça de Deus, não daremos o devido valor a Cristo e ao Seu sacrifício. Mas, isso você e eu não ouviremos em nenhum consultório de Psicologia ou da boca de algum humanista apaixonado por si mesmo!



2)      Nossa imagem deve ser moldada à Imagem de Cristo

                   Em Rm 8.28,29 vemos que todas as coisas (agradáveis ou desagradáveis) contribuem para o nosso bem o qual está relacionado com o propósito de Deus para a nossa vida. Este propósito de Deus é o de sermos conformados à imagem de Jesus Cristo, o que quer dizer: termos o nosso caráter moldado conforme o caráter de Jesus. É importante destacarmos que essa conformação ao caráter de Jesus não está focada na mudança de comportamento, mas, sim, na mudança do coração. Essa é a imagem que Deus quer que vejamos em nós.

                   Sempre que nos autoavaliarmos devemos nos perguntar: “Meus pensamentos, palavras e ações estão expressando os pensamentos, as palavras e as ações de Jesus?”.

                    
3) A autoimagem bíblica me conduz à autonegação e depois à exaltação de Cristo

                   “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).

                   Negar-se a si mesmo implica em não dedicar seus esforços para agradar a si mesmo. O alvo é Cristo. É Ele quem se assenta no trono do seu coração.

                   A cruz que deve ser tomada dia a dia, nos remete à mortificação dos nossos hábitos pecaminosos, o “velho homem” (Ef 4.23-24). Cruz é instrumento de morte. Somente depois disso é que estaremos realmente seguindo a Cristo.



Concluindo

                  Não perca tempo com bobagens como as que são propagadas pelas mensagens de autoestima e autoajuda. Não se deixe levar por uma Psicologia que é antes de tudo um brado de rebeldia contra Deus, que busca romper com todos os princípios bíblicos por considerarem-nos ultrapassados e opressivos.

                  É na Palavra de Deus que você verá quem realmente você é, e o quanto esse Deus de amor pode amá-lo mesmo assim.



São José dos Campos, 31/07/2011

Rev. Olivar Alves Pereira

sábado, 23 de julho de 2011

O Jeito Errado e o Jeito Certo de Lidar Com a Depravação Humana

Leia Sl 39

           Quando corrijo as provas dos meus alunos vejo se a questão é dissertativa ou se é objetiva. Se for dissertativa uso de clemência e sempre considero o que o aluno escreve. Se a resposta estiver correta tudo bem; se somente algumas coisas estiverem corretas, considero-a “meio certa” (ou meio errada).

          Mas, sabemos que na vida cristã só existem duas formas de nos conduzirmos: ou corretamente segundo a vontade de Deus, ou de forma errada contrariando a Sua vontade. Não há espaço para uma terceira alternativa que diz “está meio certo” ou “um pouco errado”. O fato de estar “meio certo” já é por si só errado. Qualquer coisa menos que obediência completa a Deus não é o ideal Dele para nós. Por esse motivo foi que Jesus veio ao mundo para obedecer ao Pai em todas as coisas e assim nos representar diante Dele (Hb 4.15; 5.7-10).


          Neste salmo encontramos: O jeito errado e o jeito certo de viver. Ao escrever este salmo, Davi aborda um assunto muito pertinente: como devemos lidar com a nossa depravação moral e espiritual e a que encontramos também nas demais pessoas.

1)      O jeito errado, v.1-6

          “Disse comigo mesmo”, ou como alguém diria, Davi estava conversando com seu coração. Estava estabelecendo algumas metas para si próprio. E o mesmo acontece conosco, pois, não saímos por aí anunciando o que vamos fazer sem antes ponderarmos sobre o assunto por algum tempo.

          Em seu coração Davi havia estipulado que ele seria mais cauteloso com suas palavras, especialmente quando estivesse diante de um ímpio, v.1.

          O desejo de Davi era plausível e correto. Só que ele estava fazendo algo certo, mas, do jeito errado. Ele pecou:

-Por ser autossuficiente (v.1): vemos que ele estribou-se em suas próprias forças para fazer isso. O pecado da autossuficiência é um dos pecados mais antigos da humanidade. Ele nos persegue desde o Éden, quando o diabo disse para nossos pais Adão e Eva que eles poderiam ser donos de seus próprios destinos. Hoje, a maioria dos livros, filmes, palestras e tratamentos psicológicos oferecidos, pregam a autossuficiência como resposta para os problemas.

-Por ser conivente com o pecado (v.2): “quem cala, consente”. Davi se calou “acerca do bem”, ou seja, ficou quieto quando deveria ter falado contra o pecado. John MacArthur Jr. disse: “Quando a tolerância é valorizada acima da verdade, a causa da verdade sempre sofre”. Temos vivido dias em que a tolerância tem sido apregoada dentro das igrejas, sem haver uma correta delimitação dessa tolerância. Para sermos tolerantes precisamos primeiramente saber com o que estamos sendo tolerantes para não cometermos o pecado da conivência com o mal.
 
-Contra sua própria consciência (v2b,3a): A consciência está para a nossa alma assim como os nossos olhos estão para o nosso corpo. Ferir a consciência é cegar a alma, assim como ferir os olhos é deixar o corpo todo na escuridão. Davi ao ser autossuficiente ignorou que era Deus quem o fortalecia; ao ser conivente com o pecado calando-se enquanto deveria falar, ignorou as leis de Deus e isso pesou-lhe na consciência. Nossa sociedade não aguentando conviver com a culpa e por ser arrogante e não buscando em Deus o perdão, preferiu tirar os limites de tornar tudo relativo. Afinal, onde não há pecado sendo cometido, não há culpa e crise de consciência, não é mesmo?! Mas, uma sociedade carregada de culpa também é carregada de sentimentos ruins, como aconteceu com Davi que também pecou:  



- Por dar pouco valor à sua vida (v.3b – 5a): Davi desejou morrer. Ao pedir a Deus que lhe desse “a soma dos meus dias” Davi estava dizendo: “Senhor, feche a conta”. Desejar a morte é pecado? Sim, é. Alguém pode questionar dizendo que Paulo desejou morrer (Fp 1.23). Mas, há uma grande diferença entre Paulo e Davi nessa questão. Paulo queria partir para “estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”, enquanto que Davi queria morrer para não mais enfrentar os sofrimentos que passava – era uma fuga. Ao desejar a morte, Davi estava dando pouco valor à sua vida, a qual sempre foi preciosa aos olhos de Deus.
- Por deixar-se levar pela amargura (v.5c e 6): A afirmação que ele fez no v.5: “Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade”, embora seja uma declaração verdadeira é aqui um brado de amargura do seu coração. Posteriormente, ele fará essa mesma declaração mas, com outros sentimentos (v.11). A amargura havia tomado o seu coração; ele olhou para sua vida e ficou revoltado ao ver que deixaria tudo que havia acumulado, mas, nem sabia para quem deixaria.
           Vejamos agora o jeito certo de enfrentarmos os problemas e de vivermos conforme a vontade de Deus.  
2) O jeito certo, v.7 – 13
           Davi começou o salmo dirigindo-se a si mesmo, olhando para seus próprios recursos; e o resultando foi catastrófico.
           De repente, ele para de caminhar na direção errada e se volta para Deus e então pergunta: “E eu, Senhor, que espero?”. Essa pergunta mexeu com ele de tal forma que ao respondê-la ele vê o curso de sua vida mudar. Ele se volta para Deus e diz: “Tu és a minha esperança” (v.7).
           Foi como o sol no romper da aurora que começando bem fraquinho vai aumentando sua luz e calor e então o dia se faz. Assim foi o efeito dessa pergunta que levou Davi a refletir no jeito em que ele estava vivendo e como ele deveria viver. Agora, fazendo a coisa certa do jeito certo, Davi:
-Confessou seu pecado a Deus (v.8): Ele queria se ver livre das suas iniquidades, e em vez de calar sua consciência como fizera antes (vide v.2), agora ele vê que somente o perdão de Deus poderia restaurá-lo. Não damos a devida atenção à confissão dos pecados porque somos arrogantes e orgulhosos e não admitimos o quanto ofendemos a Deus em Sua santidade. A confissão é um ato de devolvermos a Deus a Sua glória que roubamos quando decidimos viver por nossa própria conta e autossuficiência.
- Reconheceu a sua necessidade de Deus (v.9): Antes ele tentara fechar seus lábios com sua própria força, mas, agora, ele entendera que é Deus quem pode fazer isso: “Emudeço, não abro meus lábios porque tu fizeste isso”. As palavras desse verso nos lembram de outro salmo, Sl 141.3: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios”. Como somos fracos! Até para ficarmos quietos precisamos de Deus. Quão maravilhoso é Deus; até para coisas tão insignificantes Ele nos capacita!
- Clamou pela misericórdia de Deus (v.10 – 13): O pecado traz sérias consequências. A principal delas é o rompimento da nossa comunhão com Deus. Para o filho de Deus é um duro flagelo sentir o peso da mão de Deus. E Davi estava sentindo (v.10). Ele sabia também que quando Deus pesa a mão sobre o homem Ele o reduz a pó, e o que este tem de mais precioso desaparece com ele também. “Com efeito, todo homem é pura vaidade”. Essas mesmas palavras ele disse num contexto de amargura e desespero. Aqui, porém, ele as disse no contexto da misericórdia de Deus. E justamente por isso, ele que se via como um pó, como “pura vaidade”, isto é, vazio de sentido, olhou para Deus e viu quão misericordioso Ele é e assim, ele apelou para a misericórdia de Deus. Orou a Deus e buscou Seu socorro (v.12) na certeza de que Deus o ouviria
não porque houvesse nele algum merecimento, mas, porque Deus é misericordioso e o amava apesar dele ter sido o pecador que foi.
 
- Confiou somente em Deus (v.7 e 12): Depois que Davi voltou-se para Deus e declarou Nele a sua confiança e esperança viu todo o peso que estava em seu coração ser retirado. A maior loucura do ser humano e deixar de confiar em Deus para confiar em si mesmo. Como diz o Sl 40.4: “Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança e não pende para os arrogantes nem para os afeiçoados à mentira”. Devemos nos lembrar que arrogância e mentira são pecados que muitas vezes cometemos. Devemos evitar a arrogância e o pecado não só nos outros, mas, também em nós mesmos.
Conclusão
          O nosso jeito de viver e de resolver problemas é sempre mais fácil, porque é um atalho, mas, nunca dá certo. O jeito de Deus sempre é mais difícil porque primeiramente, requer de nós humildade para reconhecermos que não somos nada mais que “pura vaidade”.
          Não se trata aqui de buscarmos o melhor jeito de fazermos as coisas; só existe um jeito certo de fazê-las e este é obedecendo a Deus. Fora disso devemos nos preparar para enfrentarmos as piores dores, tristezas, decepções e amarguras.



Não obedeça pelas metades. Faça tudo do jeito certo, do jeito de Deus.  

Sermão pregado na Igreja Presbiteriana no Jardim Sul (São José dos Campos) em 24/07/2011.

Rev.Olivar Alves Pereira
     

         

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Empecilhos às Adoração Bíblica (Gn 4.1-7)

         Adoração é o assunto mais importante da nossa vida como Igreja. É por causa da adoração a Deus que fomos por Ele salvos. O Breve Catacismo, um dos símbolos de fé das Igrejas Reformadas, diz em sua primeira pergunta: Qual o fim principal do homem? E a resposta é: O fim principal do homem é glorificar a Deus a gozá-Lo para sempre. Isto é adoração.
          É por causa da adoração que nos reunimos como Igreja; é por causa da adoração que enviamos missionários aos mais distantes rincões do planeta a fim de levarem à adoração a Deus aqueles que ainda não O conhecem e por isso não O adoram.
          Adorar a Deus é uma bênção que só os salvos por Cristo têm, pelo menos na forma de uma rendição voluntária e amorosa. Os ímpios não têm esse privilégio, e, no dia do Juízo Final adorarão a Deus, mas, não como uma rendição amorosa, mas, sim, uma rendição cheia de medo e pavor; mas, será tarde demais.
          A adoração a Deus é a causa da fúria de Satanás contra a Igreja, porque ele quer para si essa adoração que a Deus é rendida. E se ele puder atrapalhar-nos em nossa adoração a Deus, com certeza ele fará. Se lhe dermos oportunidade para
ele interferir em nossa prática de culto e adoração a Deus, ele o fará, pois, tem ódio infernal dentro de si ao ver-nos aos pés de Jesus adorando-O. Por isso mesmo precisamos ficar atentos aos empecilhos à adoração a Deus. E é justamente sobre isso que quero meditar com os irmãos nessa ocasião.
          Olhando para esse texto encontramos que um dos primeiros cultos a Deus realizados na história da humanidade terminou em tragédia. Aquele que deveria ser o cenário de uma festa santa tornou-se o palco do primeiro homicídio.
          Mas, observemos aqui no texto alguns empecilhos à adoração bíblica, os quais estão presentes desde a antiguidade na trajetória do povo de Deus.
          O primeiro empecilho é:


 1)      Trocar a vontade de Deus pela nossa vontade, v.2-4a
          Com certeza você já ouviu pastores, pregadores, dirigentes de louvor dizerem abertamente que devemos dar no nosso melhor para Deus. E esse “nosso melhor” é erroneamente entendido como “a melhor maneira que eu consigo fazer algo para Deus”. Dessa forma, o pregador que assim pensa, crê que o “melhor dele” é um sermão tão bem preparado e pregado que dezenas, centenas de pessoas são convertidas. O
dirigente de louvor entende que o “seu melhor” para Deus é quando ele consegue arrancar lágrimas e arrepios das pessoas que ele dirigiu durante o louvor.
          Onde está o erro disso? No fato de que deixamos de ver que é a vontade de Deus que importa para que o culto seja por Ele aceito e não o que achamos que deve ser feito.
          Observe Abel e Caim. A Bíblia diz que Abel tornou-se pastor de ovelhas, enquanto que Caim, lavrador. Num determinado dia, ambos foram compelidos a adorarem a Deus trazendo-Lhe ofertas. Abel tomou “das primícias do seu rebanho e da gordura deste”, ou seja, um cordeiro belo, sadio e perfeito. Ao passo que Caim trouxe “do fruto da terra uma oferta ao SENHOR”, ou seja, uma salada de frutas, verduras e legumes a Deus. Deus aceitou a oferta de Abel, mas, recusou a de Caim. Por quê?
          Por dois motivos: (1) Caim trouxe ofertas que Deus não pediu; (2) e por isso seu procedimento desagradou a Deus, porque longe de ser uma adoração, foi uma afronta.
          O culto a Deus que Ele estipulou no Antigo Testamento desde os dias de Adão envolvia derramamento de sangue inocente no lugar do pecador para cobrir a vergonha do pecado deste.
          Em Gn 3.21 lemos: “Fez o SENHOR vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os
 vestiu”. Embora essas palavras não estejam prescrevendo os elementos de um culto a Deus, estão apontando para um elemento fundamental na adoração bíblica, a saber: o substituto do pecador. Ao pecarem, Adão e Eva foram tomados de vergonha e se cobriram com folhas de figueira que eles costuraram. Todos os recursos do homem para cobrir sua vergonha são paliativos e nada eficazes. Somente o recurso de Deus é eficaz. E foi por isso que Ele fez vestimentas de peles de animais.
           Agora veja bem. Se um animal deu a sua pele para que as vestimentas fossem feitas, esse animal morreu. Assim, um inocente morreu pelos pecadores.
           Foi por esse motivo que a oferta de Abel foi aceita e a de Caim não. Nada tinha a ver com a profissão deles. Tinha a ver com o tipo da oferta. Frutas não têm sangue. Animais, sim. Deus havia determinado que sangue inocente deveria ser derramado no lugar de um pecador (Hb 9.22). Como Deus nunca aceitou sacrifício humano, somente o sangue de animais poderia ser derramado em favor dos homens pecadores.
            Foi dessa forma que Caim fez a sua vontade e não a vontade de Deus. Ele agiu pensando que era o fruto de seu trabalho a oferta que Deus queria dele, ao passo que a oferta que Deus exigira foi animal. O ato de Caim foi um ato de rebeldia do tipo que pensa: “Eu quero dar algo para Deus, algo que eu fiz e produzi”.
           Onde está o pecado nisso? O de dizer para Deus que a vontade Dele pouco nos importa, pois, uma vez que nos esforçamos, nos empenhamos e nos dedicamos, nada mais justo que Ele aceite. Assim, descaradamente trocamos o Substituto que Deus preparou para assumir o nosso lugar (Jesus Cristo) e dizemos para Ele que estamos seguros em nós mesmos em oferecer-Lhe o que produzimos.
           Deus tinha um propósito em ver cordeiros substituindo os pecadores, pois, tais cordeiros apontavam para o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
           A vontade de Deus para nós no que tange à adoração é que confiemos somente em Jesus Cristo e em Seu sacrifício para sermos aceitos por Deus, e nunca em nossos recursos técnicos e tecnológicos, habilidades, capacidade e talentos. Tudo isso deve ser dedicado a Deus, mas, não como meio que nos garante diante Dele, mas sim, como recursos didáticos e nada mais.
            Esse é um terrível empecilho à adoração bíblica que agrada a Deus, e por ser um erro tão sutil tem adoecido a Igreja de Cristo fazendo dos nossos cultos ou meras aglomerações embaladas por músicas e pregações que mais se parecem com discursos de autoajuda, ou ritualismos sem vida e frios, mas que de culto vivificante, restaurador e
comprometido com a glória de Deus nada tem.
           Ou acabamos com essa confiança em nós mesmos e em nossos recursos para confiarmos somente em Cristo, ou jamais saberemos o que é adoração bíblica que agrada a Deus.
           O segundo empecilho é:


2) Descuidarmos de nós mesmos enquanto cuidamos da adoração,
v.4b-7
           “Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou” (v.4b,5a).
           Quando cultuamos a Deus confiados em nós mesmos caímos no pecado de cuidarmos bem da oferta que entregaremos a Deus e descuidarmos totalmente de nós mesmos.
           Ao exigir que um cordeiro substituísse o pecador, Deus não estava querendo o sangue dos animais, mas, sim, não estava querendo ver o sangue dos pecadores ser derramado.
           Deus não era sanguinário! Aliás, ao exigir o sangue de cordeiros o que Ele queria era evitar que o sangue dos pecadores fosse derramado porque “a alma que pecar essa morrerá” (cf. Gn 2.17 e Ex 18.20).
           Ao trazer frutas para Deus Caim não somente estava desobedecendo a Deus trazendo o que Ele não pediu como colocando sua vida em
risco.
          Semelhante a Caim, muitos dos que se aproximam do Senhor Deus com suas ofertas a serem a Ele consagradas, estão com suas vidas tortas, atolados em pecados. Ofertam a Deus da mesma forma que os pagãos ofertavam aos seus deuses, ou seja, com o intuito de aplacar-Lhe a fúria. Assim como os pagãos tentavam aplacar a fúria de seus deuses (que não passavam de invenção deles mesmos) oferecendo coisas, e algumas vezes até vidas humanas na tentativa de aplacara a ira desses deuses, não é raro encontrarmos crentes que são dizimistas rigorosos e muitas vezes entregam grandes somas em dinheiro (infelizmente, o termo “oferta” ficou reduzido apenas a uma “contribuição financeira”) na tentativa de que Deus não lhes puna ou lhes repreenda pelos pecados cometidos, abrigados e acariciados em seus corações.
          Dessa forma eles cuidam da oferta e não deixam de entregá-la, mas, não demonstram a mesma responsabilidade e zelo por seus corações. O resultado disso não pode ser outro senão serem rejeitados por Deus à semelhança de Caim.
          Caim procedeu mal, trazendo algo que Deus não pediu e que era impróprio para a adoração a Deus. Ao ser rejeitado por Deus e ver seu irmão sendo aceito, seu coração encheu-se de ira, e, uma vez irado, seu semblante o denunciava.
          À semelhança de Caim quantos crentes estão irados em seus corações porque a despeito de sua religiosidade não veem a bênção de Deus sobre eles, o que acaba dando espaço para outros pecados como a inveja (não é raro encontramos crentes que estão inconformados ao verem que outros têm muito mais que eles), murmuração (quantos crentes conhecemos que vivem murmurando, reclamando de suas vidas porque são tão miseráveis em seu espírito que são incapazes de verem a bênção de Deus em suas vidas ainda que esta viesse com luzes de neon, raio laser e um show pirotécnico). Tais pessoas se tornam amarguradas. Foi justamente isso que aconteceu com Caim.
          Ao confrontá-lo o SENHOR Deus tocou no ponto certo: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.
          A Bíblia Portuguesa na Linguagem Moderna traduz esse verso assim: Se te comportares bem, podes andar de cabeça erguida, mas se te comportares mal, tens o pecado a espreitar à porta, procurando vencer-te. E contudo tu podes dominá-lo”.
          Numa pergunta retórica Deus mostra para Caim que proceder bem é obedecê-Lo como Ele prescreve em Sua Palavra.
O pecado é como um animal bravio que está à porta da nossa casa esperando que saiamos. Ao sairmos ele avançará sobre nós e tentará nos subjugar, mas, nós devemos lutar contra ele e dominá-lo.
          Devemos dominar o pecado do nosso egoísmo que nos faz querer que a nossa vontade seja feita em vez da de Deus. Devemos dominar o pecado da rebeldia contra Deus e em vez de resistirmos à Sua vontade, nos submetamos a Ele humildemente. É submetendo-nos à poderosa mão de Deus que obteremos vitória sobre o pecado.
          Devemos dominar o pecado da autoconfiança e da prepotência que nos faz orgulhosos e arrogantes levando-nos a pensar que nossas habilidades e o que produzimos é que agradará a Deus e não nossa confiança total no Cordeiro Dele que nos foi entregue em nosso lugar, Jesus Cristo.
Conclusão
          Desses dois empecilhos aqui alistados decorrem todos os outros empecilhos à adoração bíblica que agrada a Deus. Se cuidarmos de aparar essas raízes pútridas e pecaminosas conseguiremos evitar tantos outros pecados que decorrem destes.
          Que o Senhor Jesus nos ajude! Amém!

Rev.Olivar Alves Pereira